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05/02/2019

Reeditando


CORDEL DO POLÍTICO OPORTUNISTA E O CASAL DE CAIPIRAS
Estória das safadezas em época de eleição


- Óia, zè...
Tem um homi no portão.
- Que qui o siô qué?
Seu voto, meu irmão.
Vou ser vereador,
sou homem simples
que nem o senhor.
Está aberta a temporada
de caça ao pobre eleitor.
Candidatos surgem do nada
com a mesma cantilena e toada,
sem o menor pudor.
Vote em mim, companheiro,
garanto emprego e dinheiro
não há de lhe faltar.
Sou cidadão honrado
e quando dou minha palavra
é como se tivesse jurado
em nome de Nosso Senhor.
Ponha fé no que eu digo,
vote sempre comigo,
Ponha fé no que eu digo
e seja meu eleitor.
Se me permite o amigo
gostaria de lhe falar
dos meus planos e projetos.
Não tenho cerimônia,
bebo na sua caneca
não tenho desafetos,
pergunte aos meus amigos.
Tenho dó do meu povo
e se pudesse, de novo,
nasceria aqui nessa roça,
faria meia consigo
ou seria seu lavrador.
Quero servir humildemente
a toda esta boa gente
que não tem quem lhe ampare.
Conte sempre comigo
a qualquer hora do dia
e até de madrugada.
- Ói, zé, tô desconfiada.
Quando a esmola é muita
inté o santu disconfia.
Seria de mais valia
a gente falá co padre
qui servi a Nosso Sinhô.
Ele conhece todo mundo,
inté o Totoim di Raimundo
que joga pedra na lua,
e te chama de dotô.
- A póis, mariquinha.
- O sinhô mi discurpe
vamos assuntá o vigário
i siguí o seu conséio.
Não vai precisar, meu querido,
o vigário vota comigo
desde o tempo da quermesse
quando lhe dei 10 novia
e um touro reprodutô.
Minha caçula é fia de Maria
e a bem da verdade lhe digo
a fé que a Deus devoto
é a mesma do sinhô.
Nóis vai pensá,
ieu mais Mariquinha.
Dispois nóis se fala
hoje ô aminhã à tardinha
no coreto da istação.
Dotô num carece gastura,
tá longe as inleição.
Pois que seja, meu amigo.
Um homem se mede
de cima pra baixo.
Pare antes do umbigo
pois que dali pra baixo
só tem pouca vergonha
e muita devassidão.
É olho no olho
e o fio do meu bigode
vale mais que promissória.
Só promete quem pode,
não sou como a escória
que promete céus e terra,
mente mais que a besta-fera
que a verdade não rima
com a minha sinceridade,
estima e consideração.
Vou lhe fazer outra visita,
com a permissão da comadre
e a sua provação.
Intão intè
meu amigo de fé.
Conto com o seu voto,
talvez lhe compre uma moto
para a sua locomoção.
Deus me castigue,
Que um raio me parta
se não cumprir o prometido.
A verdade me tem valido
porque sou comprometido
com a minha sinceridade.
Não escondo carta na manga
e juro sair de tanga,
de peruca e saiote,
dando vexame e fricote
no dia da eleição.
- Grazadeus, Mariquinha...
O homi foi-se imbora,
tomou o rumo da rua.
Já num era sein tempu.
Sô genti, num sô jumento
pra carregá essi gordo falastrão.
Nóis vai votá no Binidito
qui nunca pede voto
e num tevi voiz de prisão.
- A pois, meu marido.
Ele num dá a moto
i nóis num vota nele.
Fica i ditu pelo num dito,
nóis vota nu Binidito,
dispois nóis assa um cabrito,
ele qui chupi os osso,
qui coma angu de caroço
e tenha indigestão.
- Mió pegá cum Deus
qui perdoa inté ateus,
di menus us políticu.
Ês vai tudim pru inferno
cum ropa de missa ô di ternu
pra drento dus calderão.
O tinhoso dus infernu
lamba us beiçu e si sirva
dessa raça di leitão.
Tudo gordo às nossa custa
tomara que o povu lhis cuspa
nu dia das inleição.
.

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